Por Wanderlei Passarella - Diretor Executivo na Synchron & Celint
“Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.”
Carl Gustav Jung
Vendas caindo, muitas reclamações de clientes, alto turnover de vendedores. O que está havendo? Nem sempre a solução para um problema comercial se encontra apenas na esfera das questões mercadológicas. Há muita chance de que o problema fundamental permaneça escondido profundamente nas entranhas da organização. E a solução pode se se encontrar na mudança de atitudes, postura e exemplos do líder máximo.
Como num círculo vicioso, um líder desorganizado, desfocado ou ainda autoritário estimula comportamentos em sua equipe direta que são repassados, na maior parte das vezes, a toda a estrutura organizacional. A cultura, o mudus operandi das pessoas acaba refletindo os valores e crenças desse líder e as suas idiossincrasias. A história nos dá inúmeros exemplos disso. Negócios podem ser destruídos por tal comportamento, ou mesmo um país pode “quebrar” com as atitudes e visões incorretas de seu líder máximo (qualquer semelhança com casos conhecidos não é mera coincidência).
E, assim, nesse círculo vicioso, os clientes acabam recebendo a carga de frustrações que percola a empresa. Mas, o cliente pode ser entendido como um público externo que não se identifica com a empresa por laços trabalhistas, não tem motivos para sofrer calado. O que ele faz, então, ao receber indiretamente essa cultura velada da empresa? Não compra, reclama do que comprou, fica insatisfeito com o atendimento e ainda legitima a insatisfação dos colaboradores da linha de frente da organização (que procuram por novas oportunidades em outras empresas, impactando o turnover...).
Trocar de líder é algo que pode fazer sentido em um quadro como esse, na constatação de um círculo vicioso que retroalimenta maus resultados. Mas, e se a substituição do líder não for algo factível?
A primeira providencia é torna-lo consciente das consequências de suas atitudes. O que não é nada fácil! Geralmente, há uma “cegueira conceitual” no líder com esse padrão de comportamento e há ainda certa arrogância e prepotência associada à responsabilidade de quem está em posição de comando. A grande pergunta é: quem irá conscientiza-lo disso? Se a empresa tiver um Conselho de Administração, este é o colegiado que deveria realizar esta missão. Ou ainda um Diretor de RH experimentado e independente, com confiança e maturidade para desafiar produtivamente o seu chefe. Ou mesmo quando a empresa dispõe de “coaches” externos e um deles seja qualificado para trabalhar com alta gestão, tendo a simpatia do líder para trabalhar diretamente com ele.
Vamos, então, supor que essa conscientização seja conseguida por meio de alguma das alternativas acima. O segundo passo é despertar nele o desejo de mudança, algo que só ele pode decidir. Afinal, ninguém muda ninguém. Apenas a própria pessoa pode decidir mudar. Nenhuma aventura de transformação de si próprio pode ser empreendida sem que o viajante assim o queira, e o queira ardentemente, pois as barreiras e desafios irão desanimar os que não estão firmes em seu propósito.
A terceira, e derradeira etapa, é o que chamamos de “Jornada Interior do Líder”. É preciso descer aos recônditos de sua própria alma, desnudar suas forças e fraquezas, compreender sua luz própria e o que causa sombras. Só por meio dessa jornada, empreendida de forma séria e constante, o líder poderá dar a volta por cima no círculo vicioso que catalisou na cultura e ambiente de sua empresa.
A “Jornada Interior do Líder” é a viagem de autoconhecimento e de autotransformação que todas as pessoas em posição de liderança deveriam empreender constantemente, mesmo que as coisas estejam bem. Pois sempre podem ficar melhor! Tornar-se um ser humano mais preparado, que é mestre de si mesmo e que sabe utilizar a força construtiva do amor é chave para que o processo de liderança seja bem sucedido em direção a resultados superiores para todos os públicos de uma empresa.
Líderes são treinados para olharem para fora; criam visões do futuro e assim sonham. Isso é crucial. O mercado e os clientes estão lá, no front externo. O contexto, as condições do ambiente, as variáveis relevantes estão fora da empresa. Mas, frequentemente, se esquecem de olhar para dentro; não queremos dizer aqui para dentro de sua organização, mas para dentro de si mesmo. Quem assim o faz, desperta. E despertando, catalisa valores fundamentais para o processo de geração de valor em longo prazo. Esse é o significado da frase de Jung no início deste artigo.
A “Jornada Interior do Líder” é o processo rico e insofismável de transformar-se a si mesmo. Mas, o que é essa transformação senão o caminhar constante, gradual e progressivo em direção ao que há de melhor dentro de si! A transmutação de seu próprio chumbo em ouro filosofal é a via espetacular de eliminar as impurezas de sua alma e torna-la brilhante, límpida e transparente de sua própria essência!
Quem se habilita a realizar essa jornada?