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Desenvolvimento de Mesas Diretoras

Atualizado: 8 de mai. de 2020

Por Wanderlei Passarella - Diretor Executivo na Synchron & Celint

Artigo | Desenvolvimento de Mesas Diretoras

Instalar um “Board of Directors” ou Mesa Diretora, no Brasil conhecido como Conselho de Administração ou Conselho Diretor, é um passo importante ou uma condição necessária, mas não suficiente. É comum vermos organizações que se esmeram em contratar os melhores profissionais para compor seu Conselho, mas que não estabelecem uma agenda de trabalho produtiva e nem se preocupam em fazer com que esse grupo de profissionais atue como um time de verdade.

O passo seguinte à instalação da Mesa Diretora é criar uma agenda anual de assuntos importantes que não devem deixar de ser debatidos para que o negócio da empresa possa ser desenvolvido. Em nosso livro “A Reinvenção da Empresa – Projeto Ômega”, publicado em 2017 pela editora Évora, explicamos no capítulo 8, quais devem ser os assuntos principais da pauta para se trabalhar uma Governança Integral. A figura ilustra esses pontos:

SYNCHRON | Governança Integral

Após instalar o Conselho e desenvolver uma agenda de discussões, é preciso aculturar os participantes ao ambiente organizacional. O que se faz por meio de visitas às instalações, da discussão do histórico e dos marcos de referência da empresa, de um profundo debate sobre valores e práticas usuais, bem como do entendimento do estágio atual de desenvolvimento dos negócios e os resultados alcançados (tanto bons como ruins). Essa aculturação, realizada em etapas, deve culminar com uma agenda própria de desenvolvimento da equipe, ou formação de time, entre os Conselheiros ou membros da Mesa Diretora. Quatro são as atividades principais para tal:

1. Encontros Sociais (almoços, eventos da empresas, etc.);

2. Avaliação de Desempenho;

3. Seminários/Cursos:

- Internos (convidar palestrantes para trazer temas relevantes);

- Externos: cursos de Governança, Conselho, Equipe, etc.

4. Treinamento em processo de tomada de decisão conjunta.

Particularmente, esta quarta atividade reveste-se de importância ímpar, pois pode alavancar os resultados de forma impressionante. Talvez o resultado mais efetivo desse treinamento para tomada de decisão conjunta seja a qualidade da decisão em si. É sabido que “duas ou mais cabeças pensam melhor que uma”, mas a prática dessa máxima no ambiente organizacional tem ficado constantemente relegada a um segundo plano, o que pode ser uma séria inversão de valores.

Durante os últimos anos, temos praticado uma dinâmica muito esclarecedora com nossos alunos e com os executivos que passam por nossos desenvolvimentos gerenciais. Em primeiro lugar, pedimos que eles ouçam atentamente a leitura de uma reportagem. Em seguida pedimos que respondam individualmente a um questionário sobre o que ouviram. E, finalmente, pedimos que se reúnam em grupos e respondam coletivamente ao questionário. Anotamos as repostas certas, individuais e dos grupos. O que observamos é uma leve melhora percentual nas notas (1,5%) quando discutem em grupo.

Mas, num segundo momento, discutimos antecipadamente sobre o que é trabalhar em equipe. Esclarecemos como funciona de fato uma equipe que trabalha e toma decisões em conjunto. Aqui vai um resumo do que é debatido nesse momento.

1º. O processo decisório melhora quando:

  • As pessoas se preparam. Se os membros do grupo estiverem mal preparados, sem informações sobre o assunto, a decisão muito provavelmente será pior do que se houver preparação prévia;

  • A equipe está treinada. Se os membros se conscientizarem do valor do grupo, da riqueza da diversidade e da importância de ouvir atentamente cada contribuição individual;

  • O facilitador do trabalho, em caso de haver um, está convicto de que o processo deve seguir o confronto x consenso. Confronto de ideias e não de egos, seguido de um consenso, uma decisão conjunta, sobre os rumos de ação. E, então, a busca pelo construto coletivo (a construção coletiva de um caminho) é algo desejado e valorizado.

2º. O trabalho de equipe pode ser desperdiçado quando ocorrerem algumas situações comuns, que devem ser sobrepujadas:

  • Quando uma pessoa está mais próxima da resposta ou solução desejada, mas os outros membros da equipe o deixam de lado;

  • Quando um elemento é mais impositivo, tentando fazer valer sua opinião “a qualquer preço”;

  • Quando algumas pessoas não estão interessadas em defender seus pontos de vista e concordam facilmente com qualquer posição;

  • Quando as pessoas não despertam para o fato de que é preciso mudar quando o outro mostra fatos sólidos, ou uma argumentação mais concreta e sensata;

  • Quando o grupo não se prepara para ouvir e escutar, e um espírito de grupo não é formado. Os povos ancestrais utilizavam um “bastão falador”. Quem possuísse o bastão poderia falar enquanto os outros deveriam ouvir, e assim por diante.

Após esses esclarecimentos, realizamos um segundo “round”, passando um pequeno filme e novamente o questionário individual e depois em grupo. O que observamos, então, é uma expressiva melhora nas notas (38%)! A figura abaixo ilustra o quanto se consegue de avanço através dessa metodologia, aplicada a centenas de pessoas.

Conclusões do experimento:

  • O trabalho em equipe é importante porque tenta extrair o melhor de cada um.

  • Cada pessoa retém na memória fatos mais afeitos a suas preferências, histórias de vidas, etc.

  • E ainda, entra em questão a diversidade de atributos, personalidades e experiências.

  • Assim, uma equipe transdisciplinar, se as pessoas estiverem preparadas para tal, tem maior probabilidade de resolver, criar, inovar do que uma equipe composta por pessoas com estilos, personalidades e conhecimentos semelhantes.

A chave para a formação de uma boa equipe é a diversidade, porém que todos tenham algo em comum: a capacidade de respeitar as diferenças e a vontade de chegar mais perto da verdade. A liderança da Mesa Diretora tem um papel crucial em atuar para que esse ambiente de decisão conjunta possa evoluir na empresa. No final das contas, em um paralelo estatístico aproximado, estaremos deixando 38% de lucros na mesa, se assim não o fizermos!

Os profissionais do Conselho compõem a instância máxima de uma organização e podem trazer resultados incríveis para os negócios. Desenvolver essa equipe com todo o cuidado é investimento com retorno garantido. É urgente disseminar a prática da Governança Corporativa nas empresas de capital fechado, pelo potencial de alavancagem da prosperidade inerente, e fazer com que o grupo formado atue de forma organizada, com pauta, ata, agenda anual, bem como devidamente treinado para atuar como time, principalmente nas tomadas de decisão.


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