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A Reinvenção da Empresa - “Ômega”

Atualizado: 8 de mai. de 2020

Por Wanderlei Passarella - Diretor Executivo na Synchron & Celint


Artigo | A Reinvenção da Empresa - “Ômega”

Em pesquisas e estudos feitos em empresas com as quais trabalhamos, direta ou indiretamente, temos observado uma enorme desconexão entre o mundo da produtividade, geração de riqueza e lucro e a qualidade do ambiente humano onde esses resultados são gerados. O modelo organizacional vigente ainda é pautado pelos pilares do racionalismo científico e da maximização do capital como um fim em si mesmo. Em grande parte do mundo corporativo, o resultado humano dessa lógica parcial são indivíduos desconectados de seu trabalho e culturas frias e pesadas.

Revela-se assim, um grande paradoxo: o que as organizações mais buscam – um resultado crescente e perene – acaba sendo comprometido pela própria forma parcial e reducionista de concretizar sua intenção. Ainda são poucas as empresas longevas e pujantes que geram benefícios claros e contínuos para todos os seus stakeholders.

Pensando nesse paradoxo, e na forma de resolvê-lo para possibilitar maiores e melhores resultados no universo organizacional, fomos buscar na resolução dos paradigmas vigentes a força propulsora para superar esse desafio. Com essa intenção de reinventar a empresa, juntei-me a Paulo Monteiro e produzimos um livro com o mesmo título deste artigo. Iniciamos destacando que o ser humano tem potencialidades latentes que ainda desconhece, como nos garantem os grandes sábios, cientistas e filósofos.

Observamos enormes avanços tecnológicos, mas ainda estamos presos a paradigmas limitadores do nosso potencial. Assim também acontece nas empresas, células fundamentais para o bem-estar econômico, psicológico e emocional de todos nós. Nelas, o ser humano ainda é encarado como recurso, um “homem instrumental”. Mas consideramos que é possível obter resultados maiores e melhores.

Nosso livro trata da desconstrução dos paradigmas limitadores e “instrumentais” do ser humano – o conhecimento, o trabalho e o dinheiro – para, com uma nova visão, reinventar e ampliar o pensamento sobre as funções diretivas de uma organização: estratégia, cultura & estrutura, liderança e governança.

A essa dinâmica de reinvenção em busca de resultados ampliados e sustentáveis, chamamos de “Ômega”, conceito utilizado pelo antropólogo Teilhard de Chardin para designar um ponto de consciência mais elevado, ao qual seremos chamados a atingir no decorrer da história.

O livro busca uma síntese inédita entre a trajetória de uma sabedoria perene, presente na voz de vários pensadores ao longo da história e os principais desafios do mundo organizacional. Esse viés mais profundo de pensamento crítico representa um diferencial para todos os envolvidos no mundo da gestão que buscam melhores rumos para as organizações contemporâneas.

Concluímos que chegou a hora de repensar nossos modelos de negócios, dentre outros motivos porque o esgotamento do pensamento cartesiano não produz mais os resultados esperados (resultados ampliados, em que o financeiro é apenas um dos componentes vitais). Mas, estamos convictos que essa reinvenção não se sustentará como mera declaração, como vem acontecendo em muitas organizações, que pregam o que no fundo não pensam e nem querem fazer. O caminho da sabedoria, o convite da filosofia perene e da transdisciplinaridade, aplicadas ao mundo organizacional, é um terreno espinhoso, mas ao percorrê-lo, indivíduos e empresas terão a gratificante sensação de terem contribuído para a transformação positiva do mundo em que vivemos. A jornada de Ômega pode ser desafiadora, mas é rica e fértil, valiosa, expansiva e evolutiva.

Não estamos sozinhos. O pequeno passo desse trabalho vem acompanhado pelos avanços de outros escritores e pensadores organizacionais, que também visionam o emergir de uma nova era. O que procuramos fazer é como os animais da fábula do Beija-flor, atribuída a Wangari Maathai – Prêmio Nobel da Paz de 2004: “Era uma vez um Beija-flor que fugia de um incêndio juntamente com todos os animais da floresta. Só que o Beija-flor fazia uma coisa diferente: apanhava gotas de água de um lago e as atirava ao fogo. A águia, intrigada, perguntou: – Ô bichinho, achas que vais apagar o incêndio sozinho com essas gotas? – ‘Sozinho, sei que não vou’, respondeu o Beija-flor, ‘mas estou fazendo a minha parte’. Envergonhada, a águia chamou os outros pássaros e, juntos, todos entraram na luta contra o incêndio. Vendo isso, os elefantes venceram o medo e, enchendo suas trombas com água, também correram para ajudar. Os macacos pegaram cascas de nozes para carregar água. Ao fim, todos os animais, cada um de seu jeito, acharam maneiras de colaborar na luta. Pouco a pouco, o fogo começou a ceder e, de repente, o Ser Celestial da Floresta, admirando a bravura desses bichinhos e comovido, enviou uma chuva que apagou de vez o incêndio e refrescou todos os animais, já tão cansados – mas felizes”.

Nestes tempos insólitos, em que o ser humano parece perdido no sinuoso caminho até Ômega, trabalhar para que empresas o façam parece ser o mais sensato. Acreditamos que as organizações são células do potencial criativo, produtivo e disruptivo do caminhar humano. Por isso, nem capitalismo selvagem, nem socialismo paralisante: por um mundo empresarial vivo, dinâmico e mais justo.

Artigo a ser publicado na revista DOM, da Fundação Dom Cabral, em Junho/17.


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