CONSELHOS CONSULTIVOS COMO VETORES DE TRANSFORMAÇÃO CONSTRUTIVA DAS ORGANIZAÇÕES
Atuo em Conselhos há vinte e cinco anos. Foram quase trinta empresas nesse período, desde 1996. Quando comecei, a Governança Corporativa ainda não era muito clara para a maior parte das empresas. O Relatório Cadbury, marco das práticas modernas de Governança, tinha sido lançado em 1992, portanto existia há apenas 4 anos.
Algo está claro para mim, após essa experiência acumulada: os Conselhos, quando executam corretamente a sua função de “governar” uma empresa, podem ser os principais responsáveis por um salto de qualidade no processo decisório sobre as grandes questões empresariais, entre elas o direcionamento estratégico, e, com isso, contribuem de forma efetiva para uma transformação construtiva das organizações onde atuam, abrindo caminho para o que convencionei chamar de “perenização adaptativa” em meu livro “A reinvenção da Empresa – projeto Ômega”. Temos várias pesquisas e estudos de casos indicando que, mantidas inalteradas algumas variáveis chave, um maior nível de governança implica em melhores resultados (financeiros, mercadológicos etc.) no médio prazo.
Percebo também que, ao longo desses anos todos, especialmente nos últimos dez anos, há uma crescente conscientização, no meio empresarial, sobre o valor que a Governança cria, para empresas de qualquer porte, desde uma startup até uma grande empresa listada em Bolsa. Claro que há inúmeros modelos diferentes, realistas, aplicáveis aos diferentes tipos de empresas, condizentes ao grau de maturidade dos sócios e de sua cultura. Encontrar esse modelo correto é a Ciência e a Arte da Governança, com a qual a ABC3 já nasce imbuída.
Progressivamente, também, o mito de que os Conselhos são caros vem caindo por terra. Não só eles podem ser perfeitamente adequados à capacidade econômica e financeira de cada empresa, como a relação custo/benefício é muitíssimo atrativa.
A maior barreira ainda é cultural e está relacionada à história e ao mindset de founders, acionistas e empresários: a cultura do poder. Em um país ainda muito hierarquizado com alto IDP (Índice de Distância do Poder), como ressaltado por Malcolm Gladwell em seu livro “Outliers” (Fora de Série), a desconfiança de abrir as informações do negócio e compartilhar as decisões sobre ele com um grupo seleto de Conselheiros (Governantes, como gosto de os chamar) é um dos maiores entraves para que uma Governança funcione adequadamente. Observamos que muitos acionistas e fundadores sabem dos benefícios da Governança, querem que seja aplicada em suas empresas, mas ainda resistem, inconscientemente, por conta dessa questão cultural.
Nesse sentido, de alterar uma cultura arraigada, urge uma “cruzada”, uma verdadeira onda de abordagens criativas, sensíveis e competentes por parte dos profissionais muito bem preparados para exercer essa Ciência e Arte de governar. A sociedade clama por essa revolução, pois os ganhos com uma boa Governança são sentidos na empresa, internamente, mas também por seus públicos (os chamados “stakeholders”). É um jogo em que os vencedores são muitos, impactando os cidadãos de forma direta ou indireta.
A ABC3 nasce com esse espírito desbravador, antecipando-se no tempo para contribuir de forma definitiva com a aceleração da implantação das boas práticas de Governança em empresas de porte pequeno e médio, as chamadas “PMEs”, que constituem uma parte significativa do PIB e dos empregos no país. Por meio de seus Associados, profissionais experientes, motivados, qualificados e em constante aprimoramento educacional, a ABC3 decididamente fará história, ao encetar essa missão de desbravamento e transformação.
Parabéns a todos os que fazem parte desse movimento inovador e oportuno. E, também, àqueles que ainda farão!!!
Por Wanderlei Passarella
Diretor Executivo no CELINT e Conselheiro da ABC3
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